Santiago (25,7km)
Último dia da etapa.
Em Padrón, o albergue municipal foi o menos recomendável de todos desde o inicio de todos, chuveiros sem pressão e cozinha sem frigorífico. Mas, não faz mal, o importante é a jornada, a camaradagem, o espírito da partilha e olhando para trás, tudo tem piada na verdade. Parece que somos reduzidos à mais básica das sobrevivências, todos nós. É como se fossemos todos iguais e neste aspecto, ninguém é superior a ninguém.
Comecei o caminho sozinho, a meio da noite pois em Espanha amanhece mais tarde. Caminhei na escuridão sem medo, mas sempre que me sentia a vacilar, recitava o Salmo 23:4:
Em Padrón, o albergue municipal foi o menos recomendável de todos desde o inicio de todos, chuveiros sem pressão e cozinha sem frigorífico. Mas, não faz mal, o importante é a jornada, a camaradagem, o espírito da partilha e olhando para trás, tudo tem piada na verdade. Parece que somos reduzidos à mais básica das sobrevivências, todos nós. É como se fossemos todos iguais e neste aspecto, ninguém é superior a ninguém.
Comecei o caminho sozinho, a meio da noite pois em Espanha amanhece mais tarde. Caminhei na escuridão sem medo, mas sempre que me sentia a vacilar, recitava o Salmo 23:4:
"Ainda que eu atravesse o vale da sombra da morte,
Não terei receio de nada,
Porque tu Senhor, estás comigo.
O teu bordão e o teu cajado dão-me confiança."
Parei perto das 8:30h para comer quando ainda faltavam 8km. Aí, uma senhora asiática meteu conversa comigo por causa da minha tatuagem do braço. A Yvonne, acabou por se tornar a minha companheira até ao fim. Descobri que nasceu em Taywan, tem 50 anos e juntamente com o marido tiveram um negocio de gelados durante 10 anos. Venderam-no e a Yvonne reformou-se, o marido por opção continua a trabalhar. Têm uma filha com 19 anos a viver na Alemanha e pensam comprar uma casa no Porto para ficarem mais próximo dela.
Falámos de muita coisa, do Japão, da espiritualidade, reencarnação, relacionamentos amorosos e familiares. Na questão dos familiares, falei sobre a questão dos meus pais não me amarem e que é importante eu os perdoar. Ela ouviu com atenção e entendeu perfeitamente o que quis dizer e depois sugeriu que, ao invés do perdão, porque não jogar com as expectativas? Pedi para elaborar e ela comentou que a razão para o meu relacionamento não emocional com os meus pais é porque eu deposito as minhas expectativas em como eles deviam ser pais melhores. Pensei naquilo... Depois disse
- "Os teus pais não te podem amar se nunca foram amados, por isso vive a tua própria vida e aprende a amar tu, para quando tiveres filhos tornares as vidas deles melhores do que a que tu tiveste, ao não cometeres com eles os mesmos "erros" que foram cometidos contigo. E talvez assim, as vidas deles possam ser 10% ou mesmo 20% melhores do que a tua foi, e os filhos deles talvez tenham mais 10% ou 20%. Já imaginaste como será a tua família quando chegarem aos 100%? E tudo isto parte de ti."
Fez sentido...
Chegámos finalmente à Catedral e pedi à Yvonne para me tirar algumas fotos. Assim foi e depois nós dois em conjunto. Fomos buscar a Compostela e fui para o Albergue, nunca mais vi a Yvonne. Tomei um duche e saí para almoçar em direcção à Catedral, e naquele momento senti que havia algo dentro de mim que precisava sair e esse sentimento aumentava à medida que me aproximava da Catedral. Sentei-me por alguns momentos a observá-la e as lágrimas saíram. Lágrimas de alegria, raiva, frustração, realização,... O que vinha constantemente à cabeça era "Conseguiste. Parabéns, conseguiste."
No fim do almoço, fui à Catedral dar um abraço a Santiago. Agradeci o facto de me ter ajudado a chegar ao meu destino em segurança e sem mazelas, com fé, coragem e persistência. Pedi para até à próxima vez que nos encontrarmos, que me ajude a manter a fé, a coragem, a determinação, que esteja mais em paz comigo e ainda mais humilde.
Voltei ao albergue para uma sesta de 3h e depois fui jantar, voltei ao albergue novamente e descansei para um novo dia. Antes de adormecer contudo, veio a mim um sentimento de, melancolia talvez? Ou antes "Agora que fiz isto, o que faço agora?"
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